sexta-feira, 18 de março de 2011

De: Zero Hora

Rosane Oliveira

Para que nada mude
As três páginas com as respostas do governo Tarso aos 17 pontos da pauta de reivindicações do Cpers são a confirmação de que nenhuma mudança tirará o magistério da zona de conforto em que se encontra. Zona de conforto em termos, porque os salários continuarão baixos, mas a vida seguirá seu curso nas escolas. Ninguém será promovido por ensinar melhor, aprovar mais ou contribuir para a melhoria do desempenho da escola nos testes nacionais. Não haverá 14º salário para os que cumprirem metas, porque o Cpers considera a meritocracia uma aberração, e o governo concorda. Ninguém será punido se tiver desempenho insuficiente, porque não haverá avaliação externa dos professores.
Está escrito: “Reafirmamos nossa posição contrária à meritocracia e ao modelo de avaliação efetivado por meio do Saers, que já foi extinto devido à sua concepção mercadológica no ideário neoliberal. Não estabeleceremos a política de diferenciar salário a partir da verificação de resultados, nem vamos promover competição entre escolas e professores, o que só aprofundaria a desigualdade.”
Os professores podem ficar tranquilos. O plano de carreira continuará intocável, apesar de, no próprio governo, existirem vozes que atribuem a ele, com seus 36 degraus, a responsabilidade pelos baixos salários no início da carreira. Tão intocável é o plano que não se admite sequer a eliminação do nível 4 (licenciatura curta acrescida de um ano de estudos adicionais), no qual estão apenas 20 professores, somando-se as seis classes. Nem se fala em exigir nível superior nos próximos concursos, como seria recomendável, e que faria o professor gaúcho começar no atual nível 3 (licenciatura curta) ou no 5 (licenciatura plena).
Para não dizer que o governo concordou com 100% das exigências do Cpers – exceto a mais importante, o pagamento imediato do piso nacional como salário básico –, registre-se que no item “garantia de IPE público somente para servidores e seus dependentes; não à reforma da Previdência” a resposta foi um lacônico “Reafirmamos os compromissos assumidos no 7º Congresso do Cpers: garantir o IPE público e estabelecer um amplo debate sobre a previdência estadual”.
ALIÁS
Vale a pena ler, na página 13, o artigo da professora Juçara Dutra Vieira, ex-presidente do Cpers e hoje assessora de Tarso Genro.
Contrabando na madrugada
Foi uma emenda enxertando 28 cargos de “coordenador regional de participação popular” no projeto que trata do Instituto de Previdência do Estado a responsável pelo encerramento da sessão de votação dos projetos do governo, na madrugada de ontem.
Surpreendidos, os deputados do PSB, que não haviam participado da reunião com a líder do governo, saíram para não votar contra. Faltou quórum, e o presidente Adão Villaverde teve de encerrar a sessão, quando já passava das 3h30min.
Cargos para o Planejamento
Com razão, os deputados do PSB estranharam a criação de 28 cargos de coordenador regional de participação popular no IPE. Não fazia sentido. A oposição logo interpretou como “aparelhamento do IPE pelo PT”. Ontem, a líder Miriam Marroni explicou que os cargos eram para a Secretaria do Planejamento, que cuidará do Orçamento Participativo. O governo amarrou a emenda ao projeto do IPE para não ter de começar o processo do zero, e acabou sendo obrigado a transferir o restante da votação para a próxima terça-feira.
É PROIBIDO FALAR
Ao ver o prefeito de São Lourenço do Sul, José Nunes, com um esparadrapo na boca, durante a visita do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, na quarta-feira, houve quem pensasse que fosse um protesto. Mas é bom a população ir se acostumando: ao menos nos próximos 20 dias, o prefeito deve desfilar com a proteção, adotada como parte de um tratamento médico. Como não vinha conseguindo cumprir a recomendação de poupar as cordas vocais, mesmo estando em licença para tratar um pólipo, Nunes apelou à tática para se obrigar a ficar de boca fechada. Apesar dos apelos do secretário de Saúde, Arilson Cardoso, para que permanecesse em casa, já que o comando do município está interinamente com o vice Daniel Raupp Martins, o prefeito não aguentou ficar afastado, diante da tragédia que devastou a cidade. Para se comunicar, anda com bloco e caneta. – Como não conseguimos amarrá-lo em casa, ele mesmo decidiu amarrar a boca – brinca Arilson, que também é médico. Temidas pelo Cpers, a municipalização do ensino e as parcerias com o setor privado na educação estão vetadas no governo do PT. Houve um tempo em que governador colocar o boné do MST era um deus-nos-acuda. Ontem Tarso Genro usou o famoso boné vermelho e ninguém reclamou.
Há oito dias, o deputado Henrique Fontana passa a maior parte do tempo na Santa Casa de Misericórdia, onde está internado seu filho Gabriel, 26 anos, gravemente ferido em um acidente no fim do Carnaval. Fontana agradece as orações e as mensagens de carinho, informa que o filho está melhorando e ressalta a qualidade do atendimento no hospital.
Dois séculos
Em julho de 2012, Pelotas comemora 200 anos. Para marcar a data, a prefeitura promete um ano de atividades, a partir de julho deste ano. Ontem, em Porto Alegre, o prefeito Fetter Jr. mostrou como conseguiu acabar com o déficit, ampliar investimentos e aumentar salário de servidores, cortando cargos, apesar de aumentar os partidos na base.
A bandeira vermelha com uma estrela amarela hasteada ontem no Palácio Piratini, entre a bandeira do Brasil e a do Rio Grande do Sul, chegou a confundir, mas a semelhança com o símbolo do PT não passou de coincidência.
Tratava-se da bandeira do Vietnã, que foi hasteada pelo cerimonial como uma cortesia ao embaixador Duong Nguyeem Tuong, recebido ontem à tarde pelo governador Tarso Genro.
Tarso visitará o Vietnã no fim de abril, em uma viagem que também incluirá a Coreia do Sul.