O MINISTÉRIO DO SILÊNCIO - Por Carlos Chagas
“Dos ofuscados” seria até agora o rótulo ideal para o primeiro ministério de Dilma Rousseff. Ou quem sabe o ministério “do silêncio”. Escreve-se “primeiro” porque são poucas as chances de certos ministros durarem muito.
Ao longo dos anos já tivemos o ministério “da experiência”, de Getúlio Vargas, o ministério “de Wall Street”, de Café Filho, o ministério “pé-de-valsa”, de Juscelino Kubitschek, o ministério “da frustração”, de Jânio Quadros, o ministério “da união nacional”, de João Goulart, nos primeiros dois anos do governo parlamentarista, e depois o ministério “posto em frangalhos”, até golpe militar de 1964.Para não perder o embalo, vieram o ministério “da direita envelhecida”, com Castelo Branco, o ministério “da contradição”, com Costa e Silva, o ministério “da repressão”, com Garrastazu Médici, o ministério “das cabeças baixas diante do mestre”, com Ernesto Geisel, e o ministério “das tentativas frustradas”, com João Figueiredo.A redemocratização trouxe o ministério das esperanças perdidas”, de Tancredo Neves, que passou a José Sarney. Fernando Collor formou um ministério “apagado” até que, tarde demais, convocou o ministério “dos luminares”, iniciativa incapaz de salva-lo da degola. Com Itamar Franco assistimos outra vez o ministério “da união nacional”, sucedido pelo ministério “da alienação da soberania brasileira”, de Fernando Henrique.O ministério do Lula ainda carece de definições sólidas, pela proximidade de sua atuação, mas bem que poderia ser o ministério “das contradições desimportantes”. O ministério de Dilma, mesmo sem completar dois meses, ameaça aproximar-se do ministério do general Ernesto Geisel, ou seja, o ministério dos ministros que não existem nem precisam existir, ofuscados pela personalidade de quem parece, no palácio do Planalto, a ministra de todas as pastas, a diretora de todos os departamentos e a chefe de todas as seções do serviço público.
É aquela já repetida história: a madre superiora do convento quer todas as noviças executando hinos sacros sem a menor discrepância na partitura nem agudos distoantes diante da batuta.Como alguns ministros nem conseguem tocar flauta ou bater o bumbo, imagina-se que logo sejam substituídos.
INIMIGOS POUCO ÍNTIMOS
À medida em que o tempo passa, mais se acirram as opiniões de Fernando Henrique sobre o Lula e do Lula sobre Fernando Henrique. Quem conversa com os dois, claro que em oportunidades distintas, espanta-se com a agressividade de ambos, um para com o outro. Já se foram os tempos em que imaginaram aproximar a social democracia do trabalhismo, ou seja, um aliança do PSDB com o PT.Mais longe ainda ficou aquele episódio em que o Lula, presidente do PT, visitou Fernando Henrique, presidente da República, no palácio do Planalto. Hoje parece fantasia lembrar que o sociólogo, todo cheio de mesuras, pediu ao torneiro-mecânico para sentar-se pçor alguns momentos na cadeira presidencial, acentuando que um dia iria ocupa-la por força da vontade nacional. Aliás, o Lula sentou, nas duas vezes.Pelo que se ouve, Fernando Henrique não perdoa a popularidade do sucessor. E este irrita-se com a respeitabilidade doutoral do antecessor...
INTRIGA INTERNACIONAL
Cuidar-se o Lula com as palestras que começou a realizar pelo mundo afora. Aos seus inimigos históricos estão se reunindo desafetos recentes, daqueles que imaginam nada mais ter a aproveitar dele. Os dois grupos questionam a impossibilidade de alguma empresa nacional ou estrangeira, sequer entidades internacionais beneficentes gastarem 200 mil dólares para ouvir palestras de menos de uma hora do ex-presidente, sobre experiências de governo que a imprensa já se cansou de divulgar, por oito anos. Maliciosamente, começam a espalhar que nem Bill Clinton recebe tanto, muito menos Fernando Henrique Cardoso. Assim, o alto valor pago pelas conferências serviria para justificar recursos não contabilizados do ex-chefe do governo.
Trata-se de intriga solerte que seria bom matar na nascedouro, cortando as garras e os bicos dessas aves de rapina travestidas com a plumagem de tucanos. Bastaria tornar públicos os contratos de prestação de serviços, os depósitos bancários e, se possível, o texto de suas palestras.