segunda-feira, 21 de março de 2011

Da: Zero Hora

ROSANE OLIVEIRA
Uma guerra no meio da festa
Tudo teria sido perfeito na visita de Barack Obama ao Brasil, não fosse ele ter autorizado, de dentro do Palácio do Planalto, o ataque de caças americanos à Líbia. Poderia ter sido a bordo do Air Force One, poderia ter sido na limousine a caminho do encontro com a presidente Dilma Rousseff, poderia ter sido da suíte do hotel. Mas não: Obama declarou guerra à Líbia depois de ter subido a rampa do Planalto. Para o mundo, o local não faz diferença. Faz para o Brasil, que se absteve na reunião em que o Conselho de Segurança da ONU votou a resolução 1973, que autoriza o uso da força para impor um cessar-fogo na Líbia. Embora a presidente Dilma Rousseff não tenha dado nenhuma demonstração de desconforto e mantido do início ao fim da visita o tratamento cordial, petistas de diferentes Estados incendiaram as redes sociais com críticas ao ataque e ao fato de ter sido autorizado por Obama de dentro do Palácio do Planalto. No PT gaúcho, a indignação se estende ao diretório nacional, que orientou os filiados a não participarem de manifestações durante a visita do presidente dos Estados Unidos. Hoje, na reunião do diretório estadual, o secretário de Comunicação, Cícero Balestro, vai expor o descontentamento e sustentar que o PT deve estar presente em todas as manifestações pela paz e contra e guerra. – Por que o ataque à Líbia, se no Iêmen e no Bahrein os governos estão fazendo a mesma coisa que Kadafi? – questiona Balestro. Apesar desse contratempo, o que fica da visita de Obama é o caráter histórico: ele se antecipou e veio ao Brasil antes que a presidente Dilma pedisse uma audiência. Veio e conquistou as plateias com as quais interagiu – no Planalto, no almoço do Itamaraty, na Cidade de Deus e no Theatro Municipal. No Rio, Obama repetiu e ampliou os elogios ao Brasil que fizera em Brasília. Reafirmou que, se o Brasil é o país do futuro, o futuro já chegou. Disse que o progresso do povo brasileiro inspira o mundo e, referindo-se às unidades de Polícia Pacificadora, que “a esperança está voltando para os lugares onde o medo costumava reinar”.
Tarso em voo comercial
Nem jatinho alugado, nem o velho King Air, também apelidado de “avião a remo”: o governador Tarso Genro foi ao almoço com Barack Obama em Brasília num voo comercial. A um dos empresários que viajou no mesmo voo, Tarso garantiu que não pensa em comprar um avião novo para o governo, como desejava sua antecessora. – Não há clima – justificou. Nem dinheiro.
Nas alturas
Para cumprimentar o presidente Barack Obama, a maioria dos brasileiros com quem ele se encontrou em Brasília e no Rio tinha de olhar para cima. Para beijar o rosto da presidente Dilma Rousseff, ele teve de se curvar. O presidente dos Estados Unidos tem 1m86cm de altura, mas parece ainda mais alto por ser muito magro.
Tietagem
Monoglota, o senador Magno Malta não se intimidou quando Barack Obama passou por sua mesa no almoço do Itamaraty:– Sou seu fã, presidente. Mister Simpatia, Obama aprendeu expressões em português para fazer média com os brasileiros e as recitou com sotaque característico:– Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. Boa tarde a todo o povo brasileiro.
PONTOS PARA DILMA
A passagem de Barack Obama pelo Brasil rendeu elogios à presidente Dilma Rousseff, dirigidos por empresários e até por antigos adversários. A presidente foi elogiada pela sobriedade, pelo discurso e pela ausência de ranço na relação com os Estados Unidos, um parceiro comercial que nenhum país exportador pode desprezar. Convidado a sentar à mesa principal no almoço oferecido a Obama, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso revelou-se admirador do estilo da presidente Dilma Rousseff. – Ela está indo muito bem. É uma mulher brilhante – comentou FH com um dos participantes do almoço. Fluente em inglês, FH conversou com a primeira-dama Michelle Obama sem precisar de intérprete. Na mesma mesa, o ex-presidente José Sarney manteve-se discreto. Um empresário notou que Dilma conversou com Obama em inglês, só recorrendo ao intérprete quando precisava de ajuda com alguma expressão.
Prestígio
O governador Tarso Genro ficou numa mesa de poderosos no Itamaraty: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. Aliás, as mesas tinham nomes de árvores da flora do Brasil e dos Estados Unidos, como ipê-amarelo, jatobá, maple e oak. Lula errou ao recusar o convite para o almoço com Barack Obama, aceito por todos os outros ex-presidentes do Brasil. Ficou a impressão de que ele ainda não aprendeu a ser coadjuvante.
ALIÁS
No dia em que foi divulgada pesquisa mostrando que seu governo tem 47% de aprovação, Dilma Rousseff comemora o sucesso da visita de Barack Obama, ponto alto da discreta agenda dos três primeiros meses de governo. No discurso, as relações entre Brasil e EUA nunca foram tão boas. Na prática, faltam ações concretas, como reduzir barreiras aos produtos brasileiros.
Vaga no TCE
Apesar de ter direito a ficar mais “quatro ou cinco anos” no Tribunal de Contas do Estado, até a saída compulsória aos 70 anos, o conselheiro Helio Mileski decidiu se aposentar, após 40 anos na instituição. Ele pretendia sair agora, mas a pedido dos colegas ficará até maio. Com a conclusão de doutorado pela Universidade de Salamanca, da Espanha, sobre a transformação do Estado e o combate à corrupção, pretende atuar no setor privado, possivelmente em consultorias. – É importante se reinventar e buscar novos caminhos – diz. A vaga ficará com um dos cinco auditores substitutos de conselheiro do órgão. Depois que o plenário do TCE formalizar sua lista tríplice, caberá a Tarso Genro escolher o titular. Outras duas vagas abrirão neste ano: uma que será indicada pela Assembleia e outra pelo governador.
Nova proposta
Em uma reunião marcada para as 9h na Casa Civil, o governo discutirá amanhã uma nova proposta para apresentar ao Cpers. Além do chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, participarão os secretários da Administração, Stela Farias, da Fazenda, Odir Tonollier, e da Educação, José Clóvis de Azevedo, para estudar de que forma pode haver avanço na proposta apresentada semana passada, de 8,5% sobre o salário básico de toda a categoria. Depois, será marcada reunião com o Cpers.