ROSANE OLIVEIRA
Uma guerra no meio da festa
Tudo teria sido perfeito na visita de Barack Obama ao Brasil, não fosse ele ter autorizado, de dentro do Palácio do Planalto, o ataque de caças americanos à Líbia. Poderia ter sido a bordo do Air Force One, poderia ter sido na limousine a caminho do encontro com a presidente Dilma Rousseff, poderia ter sido da suíte do hotel. Mas não: Obama declarou guerra à Líbia depois de ter subido a rampa do Planalto. Para o mundo, o local não faz diferença. Faz para o Brasil, que se absteve na reunião em que o Conselho de Segurança da ONU votou a resolução 1973, que autoriza o uso da força para impor um cessar-fogo na Líbia. Embora a presidente Dilma Rousseff não tenha dado nenhuma demonstração de desconforto e mantido do início ao fim da visita o tratamento cordial, petistas de diferentes Estados incendiaram as redes sociais com críticas ao ataque e ao fato de ter sido autorizado por Obama de dentro do Palácio do Planalto. No PT gaúcho, a indignação se estende ao diretório nacional, que orientou os filiados a não participarem de manifestações durante a visita do presidente dos Estados Unidos. Hoje, na reunião do diretório estadual, o secretário de Comunicação, Cícero Balestro, vai expor o descontentamento e sustentar que o PT deve estar presente em todas as manifestações pela paz e contra e guerra. – Por que o ataque à Líbia, se no Iêmen e no Bahrein os governos estão fazendo a mesma coisa que Kadafi? – questiona Balestro. Apesar desse contratempo, o que fica da visita de Obama é o caráter histórico: ele se antecipou e veio ao Brasil antes que a presidente Dilma pedisse uma audiência. Veio e conquistou as plateias com as quais interagiu – no Planalto, no almoço do Itamaraty, na Cidade de Deus e no Theatro Municipal. No Rio, Obama repetiu e ampliou os elogios ao Brasil que fizera em Brasília. Reafirmou que, se o Brasil é o país do futuro, o futuro já chegou. Disse que o progresso do povo brasileiro inspira o mundo e, referindo-se às unidades de Polícia Pacificadora, que “a esperança está voltando para os lugares onde o medo costumava reinar”.
Tarso em voo comercial
Nem jatinho alugado, nem o velho King Air, também apelidado de “avião a remo”: o governador Tarso Genro foi ao almoço com Barack Obama em Brasília num voo comercial. A um dos empresários que viajou no mesmo voo, Tarso garantiu que não pensa em comprar um avião novo para o governo, como desejava sua antecessora. – Não há clima – justificou. Nem dinheiro.
Nas alturas
Para cumprimentar o presidente Barack Obama, a maioria dos brasileiros com quem ele se encontrou em Brasília e no Rio tinha de olhar para cima. Para beijar o rosto da presidente Dilma Rousseff, ele teve de se curvar. O presidente dos Estados Unidos tem 1m86cm de altura, mas parece ainda mais alto por ser muito magro.
Tietagem
Monoglota, o senador Magno Malta não se intimidou quando Barack Obama passou por sua mesa no almoço do Itamaraty:– Sou seu fã, presidente. Mister Simpatia, Obama aprendeu expressões em português para fazer média com os brasileiros e as recitou com sotaque característico:– Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. Boa tarde a todo o povo brasileiro.
PONTOS PARA DILMA
A passagem de Barack Obama pelo Brasil rendeu elogios à presidente Dilma Rousseff, dirigidos por empresários e até por antigos adversários. A presidente foi elogiada pela sobriedade, pelo discurso e pela ausência de ranço na relação com os Estados Unidos, um parceiro comercial que nenhum país exportador pode desprezar. Convidado a sentar à mesa principal no almoço oferecido a Obama, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso revelou-se admirador do estilo da presidente Dilma Rousseff. – Ela está indo muito bem. É uma mulher brilhante – comentou FH com um dos participantes do almoço. Fluente em inglês, FH conversou com a primeira-dama Michelle Obama sem precisar de intérprete. Na mesma mesa, o ex-presidente José Sarney manteve-se discreto. Um empresário notou que Dilma conversou com Obama em inglês, só recorrendo ao intérprete quando precisava de ajuda com alguma expressão.
Prestígio
O governador Tarso Genro ficou numa mesa de poderosos no Itamaraty: o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner. Aliás, as mesas tinham nomes de árvores da flora do Brasil e dos Estados Unidos, como ipê-amarelo, jatobá, maple e oak. Lula errou ao recusar o convite para o almoço com Barack Obama, aceito por todos os outros ex-presidentes do Brasil. Ficou a impressão de que ele ainda não aprendeu a ser coadjuvante.
ALIÁS
No dia em que foi divulgada pesquisa mostrando que seu governo tem 47% de aprovação, Dilma Rousseff comemora o sucesso da visita de Barack Obama, ponto alto da discreta agenda dos três primeiros meses de governo. No discurso, as relações entre Brasil e EUA nunca foram tão boas. Na prática, faltam ações concretas, como reduzir barreiras aos produtos brasileiros.
Vaga no TCE
Apesar de ter direito a ficar mais “quatro ou cinco anos” no Tribunal de Contas do Estado, até a saída compulsória aos 70 anos, o conselheiro Helio Mileski decidiu se aposentar, após 40 anos na instituição. Ele pretendia sair agora, mas a pedido dos colegas ficará até maio. Com a conclusão de doutorado pela Universidade de Salamanca, da Espanha, sobre a transformação do Estado e o combate à corrupção, pretende atuar no setor privado, possivelmente em consultorias. – É importante se reinventar e buscar novos caminhos – diz. A vaga ficará com um dos cinco auditores substitutos de conselheiro do órgão. Depois que o plenário do TCE formalizar sua lista tríplice, caberá a Tarso Genro escolher o titular. Outras duas vagas abrirão neste ano: uma que será indicada pela Assembleia e outra pelo governador.
Nova proposta
Em uma reunião marcada para as 9h na Casa Civil, o governo discutirá amanhã uma nova proposta para apresentar ao Cpers. Além do chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, participarão os secretários da Administração, Stela Farias, da Fazenda, Odir Tonollier, e da Educação, José Clóvis de Azevedo, para estudar de que forma pode haver avanço na proposta apresentada semana passada, de 8,5% sobre o salário básico de toda a categoria. Depois, será marcada reunião com o Cpers.