AOS 80 ANOS, O MAIS JOVEM DOS SENADORES
- Política tem dessas coisas: aos 80 anos de idade, Itamar Franco retorna ao Senado como o mais jovem dos senadores.
- Lançou-se de corpo inteiro na reforma política, como integrante da comissão encarregada de propor mudanças na legislação eleitoral e partidária.
- E começou sustentando aquilo que o país inteiro exige, o fim do deletério princípio da reeleição com os candidatos a um segundo mandato no exercício do primeiro.
- Para presidente da República, tanto o Lula quanto Fernando Henrique reelegeram-se, pois se tiraram o paletó para fazer campanha, mantiveram firme a caneta na mão.
- Assim, qualquer um se reelegeria, ainda que como exceção um ou outro governador ou prefeito tenha quebrado a cara.
- Como regra, porém, o segundo mandato permanece como uma espécie de estelionato eleitoral.
- Quando governador de Minas, Itamar poderia facilmente ter conquistado a reeleição, mas recusou-se.
- Agora, no Senado, propõe a revisão do artigo constitucional imposto ao Congresso pelo sucessor que ajudou a eleger, sabe-se lá às custas de quantos milhões.
- O falecido Sergio Motta poderia detalhar a operação de compra e venda de votos, já que Fernando Henrique silencia até hoje.
- A sugestão do senador é ampliar-se o mandato dos presidentes, governadores e prefeitos para cinco, quem sabe até seis anos, sem direito à reeleição imediata.
- Ele também defende o financiamento público das campanhas e o fim do voto obrigatório.
- Está afiadíssimo nessa sua volta ao Senado, onde já tinha exercido dois mandatos de oito anos cada, até ocupar a presidência da República e o governo de Minas.
VAMOS PARAR DE COMPARAÇÕES?
- As bobagens vem em ondas, como o mar.
- Quem primeiro provocou um tsunami foi Roberto Campos, quando levantou a comparação do Brasil com os “tigres” asiáticos.
- Bons, mesmo, eram a Coréia, Singapura, Hong-Kong, Japão e Malásia, porque estavam produzindo mais do que nós e ingressavam no mundo desenvolvido.
- Se eles podiam, e o Brasil não, era por conta de nosso complexo de inferioridade, de nossas preocupações sociais, de modismos esquerdistas e da falta de mais capitalismo.
- Esquecia-se, o genial reacionário, da impossibilidade de comparar quantidades distintas, a começar pelo tamanho.
- Aqueles pequeninos países, até cidadezinhas, tinham poucos problemas de alimentação, habitação e transportes, vivendo situações bem diversas da nossa.
- Os tigres pararam de berrar, alguns viraram gatinhos, a moda agora é a China, cujo desenvolvimento, dizem os herdeiros de Roberto Campos, deve-se ao choque de capitalismo lá verificado a partir dos anos oitenta. Não é bem assim.
- De um bilhão e trezentos milhões de chineses, foram beneficiados trezentos milhões, mas a usina geradora localiza-se no Ocidente.
- Percebendo a capacidade do povo chinês de sacrificar-se e procurar sobreviver em meio a dificuldades sem conta, e tendo em vista miseráveis salários lá vigentes, o que fizeram as multinacionais?
- Transferiram-se para a China, autorizadas que foram para operar em certas áreas litorâneas.
- Mão de obra quase escrava, abundante, somada à capacidade dos desesperados, tudo começou a gerar lucros impressionantes, uma parte deles investida no próprio país.
- Isso, mais um regime político ditatorial que proíbe a maciça população do interior de chegar às ilhas de prosperidade no litoral, dá a impressão de um paraíso universal.
- Só que um bilhão de chineses logo começarão a perceber estarem servindo de massa de manobra para a minoria, mesmo imensa.
- Vão querer entrar no jogo. Participar dos benefícios.
- Nessa hora, será melhor não comparar mais nada.
O DIA DA VERGONHA
- Mais que se procure maquiar a decisão da Câmara dos Deputados, engolindo os 545 reais de salário mínimo impostos pelo governo, o 16 de fevereiro de 2011 entra nos anais da crônica política como o Dia da Vergonha.
- Primeiro porque através de um golpe regimental, Suas Excelências foram dispensados de votar individualmente o projeto de lei do palácio do Planalto.
- Os 388 integrantes da base oficial, menos 15 dissidentes, não tiveram o dissabor de ver seus nomes no painel eletrônico como algozes do trabalhador.
- Adiantou pouco porque na votação dos projetos de 560 e de 600 reais, obrigaram-se a botar o pescoço de fora.
- Três motivações levaram a maioria da Câmara a tripudiar sobre 50 milhões de trabalhadores: medo das represálias de Dilma Rousseff; malandragem para continuarem aguardando nomeações e benesses; e desprezo total por quantos precisam sobreviver com o salário mínimo.
- O espetáculo encenado no plenário por mais de dez horas revelou episódios que teriam sido cômicos senão fossem trágicos.
- O PT, ex-Partido dos Trabalhadores, votou integralmente pela merreca, enquanto PSDB e DEM arvoraram-se em defensores dos menos favorecidos.
- O PTB, ex-trabalhista, deu o seu vexame, dividindo-se apenas o PDT.
- Foi duro assistir o Vicentinho, ex-presidente da CUT, sustentar o arrocho combatido por Ronaldo Caiado.
- Quem tivesse passado algum tempo fora do país e chegasse na hora da sessão teria a sensação de estar embriagado, com aa inversão dos valores tradicionais da vida partidária.
- Aliás, a CUT também fica devendo, por falta total de mobilização.
- Algum deputado governista chegou a enfrentar dor de consciência, imaginando como seria se precisasse sustentar-se, e à sua família, com 545 reais por mês?
- Claro que não, desconhecendo todos o texto constitucional sobre o salário mínimo, que deve bastar para o trabalhador enfrentar despesas com alimentação, habitação, vestuário, transportes, educação, saúde e até lazer.
- Dos 15 governistas que votaram contra o governo, pinçam-se os nomes de Paulo Maluf, Miro Teixeira, Arnaldo Faria de Sá, Paulinho Pereira da Silva e Jair Bolsonaro. Nenhum deles tinha a pretensão de indicar diretores de empresas estatais...
NO SENADO
- Quarta-feira, 23, o Senado consumará a ignomínia dos 545 reais de salário mínimo.
- A maioria governista é ainda maior entre os senadores, valendo apenas arriscar suposições sobre quantos votarão contra, pertencendo a partidos que apóiam o governo.
- Provavelmente Pedro Simon, Roberto Requião, Jarbas Vasconcelos, Luís Henrique, Paulo Paim e Ana Amélia.
- Marcarão posição, nada terão a perder em matéria de nomeações.PSDB, DEM, PPS e PSOL prometem discursos candentes em favor dos trabalhadores...