Carlos Chagas
Brasília virou um caos. As greves sucedem-se como as ondas do mar na praia. Esta semana a cidade ficou sem ônibus, numa escandalosa manobra dos proprietários das empresas para conseguir aumento no preço das passagens, aliás, as mais caras de todas as capitais. Motoristas e trocadores foram usados pelos patrões mais ou menos como as mãos do gato, para tirar as castanhas do fogo. Prejudicada foi a população que não possui carro, mas teve pior: os responsáveis pelo metrô, em vez de aumentarem o número das composições, paralisaram as estações na hora de maior movimento, solidários com os vigaristas das empresas de ônibus.A polícia civil também está de greve, tornando uma aventura ficar na rua depois do sol, nas cidades satélites e até no Plano Piloto. Aumentaram os assaltos e os seqüestros-relâmpago. Para quem pensa refugiar-se na Esplanada dos Ministérios, supostamente um lugar seguro, vem a surpresa: desde abril que mais de oitenta índios encontram-se acampados nos jardins fronteiros ao Congresso e ao ministério da Justiça. Dormem em barracas, lavam roupa e preparam suas refeições numa sujeira sem par. A única colaboração do poder público foi instalar três banheiros-químicos, por sinal não utilizados porque nos irmãos silvícolas preferem mesmo a natureza.Na próxima quarta-feira, com mais de três meses de atraso, o Supremo Tribunal Federal deve examinar o pedido de intervenção federal em Brasília, feito pelo Procurador Geral da República. Os políticos locais são contra, alegando ter havido uma eleição suplementar para governador, já que titular foi preso e o substituto renunciou. O diabo é que foi eleito com o voto dos nove deputados distritais flagrados recebendo dinheiro sujo de um secretario do antigo governo, fruto de doações de empresas vinculadas à corrupção.Só a intervenção federal resolverá, até para interromper as atividades do Legislativo local e evitar que nas eleições de outubro a quadrilha afastada volte ao poder, conforme indicam as pesquisas. O presidente Lula lava as mãos, ou até opina contra a medida, fazendo o mesmo o seu partido, o PT. Desde a inauguração que o Distrito Federal não vive lambança igual, cabendo à mais alta corte nacional de justiça dar um paradeiro no caos. Dará?
A DÚVIDA DO SEGUNDO TURNO...
Muita gente começa a apostar na vitória de Dilma Rousseff ainda no primeiro turno das eleições. Pode ser prematura a previsão, mas a verdade é que numa simulação para o segundo turno, a candidata conquistou 45% das preferências, contra 38% de José Serra.Até agora, os partidos trabalham com a segunda votação, mas daqui para outubro muita coisa pode acontecer. No ninho dos tucanos aumenta o diapasão das críticas a Aécio Neves, que não aceitou compor a chapa do ex-governador de São Paulo. Seria uma aliança respeitável, envolvendo os dois maiores eleitorados do país. Há quem ainda espere uma reviravolta, como também aqueles que imaginam a chegada próxima dos Ets.Argumenta-se ser o segundo turno uma nova eleição, o que parece correto. Como correta, da mesma forma, a impressão de que as urnas, quando começam a falar, não costumam mudar...