EFEITOS DA SEMANA DE DOIS DIAS
Por Carlos Chagas
- Depois da lambança verificada no plenário da Câmara na noite de quarta-feira, seguiu-se espetáculo menos explosivo mas igualmente lamentável: retiraram-se os deputados para só voltarem terça-feira da próxima semana, quando será retomado o processo de votação do Código Florestal.
- Apesar de há décadas o Congresso paralisar suas atividades cinco dias por semana, das quintas às terças, a indignação cresce mais quando se assiste os parlamentares deixarem para depois decisões essenciais à sua própria razão de ser.
- Mais ou menos como uma equipe médica estar operando o coração de um paciente e, diante de uma obstrução inesperada, abandonar o infeliz na maca e só retornar dias depois. O risco é de encontrar um defunto.
- Foi do PT a decisão de abortar a sessão diante da derrota iminente de seus pontos de vista.
- O governo estava perto de ver a bancada ruralista sair vitoriosa, ironicamente respaldada pelo relator do projeto, Aldo Rebelo, do PC do B.
- Os ambientalistas iam perdendo a votação, mas antes perderam a compostura.
- Agrediram o deputado com acusações de “canalha!” e “traidor!”
- Não aceitaram a isenção para reflorestamento de pequenas propriedades.
- Até o marido da ex-senadora Marina Silva foi chamado de contrabandista de madeira.
- De repente, como se nada tivesse acontecido, foram todos jantar.
- Numa época em que se discute a reforma política, seria bom que alguém apresentasse proposta pelo funcionamento deliberativo de Câmara e Senado durante a semana inteira, exceto aos domingos.
- Com desconto em folha dos faltosos e até cassação do mandato para os recalcitrantes.
PAIS RICO É ASSIM MESMO
- Sob poucos protestos, o Senado aprovou a revisão das notas reversais com o Paraguai, a respeito da decisão do governo de pagar ao governo daquele país três vezes mais do que recebe pela compra da energia de Itaipu que não usam.
- De 120 milhões de dólares por ano, canalizaremos agora 360 milhões para Assunção.
- A vitória ampla do palácio do Planalto, seguindo as determinações do ex-presidente Lula, não impediu que senadores como Itamar Franco, Demóstenes Torres e Jarbas Vasconcelos botassem a boca no trombone, acusando a decisão da maioria de subserviente e irresponsável. Além de ter sido política, jamais técnica, destinada a inflar o balão do presidente Lugo.
- Itamar indagou sobre quem fiscaliza as contas de Itaipu, concluindo não ser o Senado e muito menos o Tribunal de Contas da União.
- A empresa binacional, para ele, é uma caixa-preta, aparentemente controlada pela Eletrobrás, hoje uma empresa de capital aberto com ações na bolsa de Nova York.
- Pagar mais aos paraguaios que não investiram um centavo na implantação e na manutenção da usina pode constituir-se numa temeridade.
- Demóstenes provou que o aumento cairá sobre os ombros do contribuinte, lamentando a instabilidade da situação dos brasileiros que trabalham e residem no Paraguai, os “brasilguaios”, desprotegidos e até perseguidos.
- Pelo menos, deveríamos exigir compensações por mais essa benesse praticada em favor de nossos vizinhos.
- Jarbas bateu firme no governo, lembrando que o Senado apenas referendava uma decisão tomada previamente pelo Executivo.
- Os recursos desviados para o Paraguai serviriam para incrementar obras e planos sociais no Brasil.
VÃO EXIGIR MAIS
- Engana-se quem supuser a presidente Dilma entusiasticamente aplaudida pela multidão, domingo, em sua viagem meteórica ao Paraguai.
- Anunciará a elevação dos recursos pagos àquele país pela compra fictícia da energia produzida por nós, mas receberá novas exigências do presidente Lugo.
- Uma delas a de limitar o número de cidadãos brasileiros que demandam aquele país, levando capital e disposição para trabalhar.
- Também deverá protestar por antecipação diante das novas medidas que o Brasil adotará nas fronteiras, para cercear a ação de contrabandistas.
- Tomara que a chefe do governo fale duro, lá, como tem falado aqui, diante de seus ministros.
PROJEÇÕES FUTURAS
- Caso a presidente Dilma venha a candidatar-se a um segundo mandato, no longínquo 2014, o PMDB reivindicará a manutenção da chapa vitoriosa ano passado, quer dizer, Michel Temer indicado para a vice-presidência.
- Na hipótese de o candidato do PT vir a ser o Lula, da mesma forma os peemedebistas pleitearão o cargo, com o mesmo Michel Temer. Dessa forma, nos próximos doze ou dezesseis anos, o partido do dr. Ulysses permanecerá a reboque.
- A pergunta que se faz é se aguentará como força política de vulto, já que desde o ano passado suas bancadas na Câmara começaram a minguar.
- Mais duas ou três eleições parlamentares, reunidas às de governador, e a perspectiva parece sombria.
- Será por isso que o presidente interino do PMDB, Waldir Raupp, interrompeu a sessão de votação do projeto das medidas provisórias, no Senado, para saudar o ingresso de Paulo Sckaff em suas fileiras? Em vez de partido das massas, vai virar o partido dos empresários?