quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Zero Hora / Rosane Oliveira


A velha tática da chantagem
Quando se associou ao PMDB para ganhar a eleição, a candidata Dilma Rousseff sabia que a aliança significava o apoio de um partido capilarizado em todo o país, mais tempo de rádio e TV, maioria na Câmara e no Senado em caso de vitória e pressão permanente num futuro governo. Já começou. Como a sua moeda de troca é o voto, o PMDB ameaça o novo governo com uma emenda que aumenta o valor do salário mínimo. Se fosse sincera a súbita paixão do PMDB pelos trabalhadores e aposentados que dependem do mínimo, o partido seria aplaudido nas esquinas. Mas não é. A ameaça de elevá-lo para além dos R$ 540 propostos pelo governo não passa de chantagem barata, destinada a pressionar a presidente a saciar a fome do partido por cargos. Dilma tirou das mãos do PMDB ministérios estratégicos, como o da Saúde e o das Comunicações, e entregou, como compensação, uma insignificância de nome pomposo chamado de Secretaria de Assuntos Estratégicos, comandada por Moreira Franco. O PMDB também não se conforma de ter perdido os Correios, um dos seus feudos de estimação. Com o dólar em processo de derretimento, Dilma assume o governo com o mínimo valendo US$ 325, pela cotação de ontem. No início do governo Lula, o mínimo estava em US$ 56,5, e a bandeira do senador Paulo Paim era elevá-lo para US$ 100. Naquela época, para comprar um dólar eram necessários R$ 3,54. A moeda americana havia chegado a R$ 4, durante a campanha eleitoral, por medo de uma possível vitória de Lula. Se hoje o mínimo chegou a US$ 325, é porque o dólar se desvalorizou (fechou ontem em R$ 1,66) e porque, em todo o seu governo, Lula adotou uma política de aumento acima da inflação para o menor salário do país. O PMDB não demonstrou desconforto no final de dezembro, quando o governo anunciou o mínimo de R$ 540, com reajuste inferior ao das aposentadorias de valor mais elevado. Se agora ameaça votar um valor maior, é para obrigar Dilma a ceder a suas exigências, sob pena de se desgastar com o ônus de um veto nos primeiros meses de governo.
PÁGINA VIRADA
Dois dos homens fortes do governo Tarso Genro, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, e o secretário-geral de Governo, Estilac Xavier, estão no centro das articulações para a montagem do segundo escalão, que deve ser concluída até o fim de semana. Os partidos indicam, mas a última palavra é de Tarso, que já vetou nomes por inconsistências no currículo. Depois de fechar o segundo escalão, com a definição dos presidentes e diretores-gerais das estatais, vem uma terceira fase igualmente complicada: o preenchimento de diretorias. Como a ideia é montar as equipes com representantes de diferentes partidos, o processo deve se estender por mais alguns dias. Quando estiver concluído, vira-se a página da discussão de cargos, e o governo começa a tratar de projetos.
Sinal verde para o Cais
Encarregados de estudar o contrato de concessão do Cais Mauá encaminhado por Yeda Crusius, o secretário-geral do governo, Estilac Xavier, e o secretário do Planejamento, João Motta, devem entregar suas conclusões ao governador Tarso Genro nos próximos dias. A análise será restrita a questões jurídicas. – Se depender de nós, a revitalização do Cais Mauá não sofrerá interrupção – garantiu ontem o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana. Pestana admitiu a possibilidade de o governo negociar com a Antaq a retirada da ação que tramita no STF.
Questão de ética
Incluído na lista de pessoas que receberam pagamentos indevidos da Assembleia, o major Fábio Duarte Fernandes foi nomeado para ocupar a subchefia de operações da Casa Militar no novo governo. Cedido para atuar na bancada do PT, Fernandes embolsou um total de R$ 120 mil ao longo de 32 meses por uma função gratificada da qual já havia sido dispensado.
Para o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, não há dilema ético porque “foi apenas um erro administrativo” e o militar “já está devolvendo os valores”. O major diz que a devolução é realizada conforme o Estatuto do Servidor, que prevê desconto de 20% em sua folha de pagamento.Estão praticamente prontas as reformas na casa que será o QG da segurança da família da presidente Dilma Rousseff, em Porto Alegre. Localizada no condomínio Jardim Verde, em Ipanema, a residência abrigará agentes de forças como Brigada Militar, Exército e Aeronáutica. O grupo ficará responsável apenas pela proteção dos familiares, já que Dilma conta com guarda própria do Exército.Ontem, trabalhadores faziam reformas e homens chegavam com equipamentos para treino de artes marciais. No início da semana, caminhões do Exército também descarregaram utensílios de cozinha. Apesar da reclamação dos partidos, a demora na definição do segundo escalão não é exclusiva do governo de Tarso Genro. Ao assumir, em 2007, a governadora Yeda Crusius só anunciou nomes para cargos como CEEE, Corsan, Metroplan e CaixaRS no início de fevereiro.
Presenças simbólicas
A transmissão de cargo do diretor-presidente do Detran teve presenças ilustres – e simbólicas – na vida da autarquia: a secretária da Administração, Stela Farias, o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Geraldo da Camino, e o superintendente da Polícia Federal, Ildo Gasparetto. Os três foram protagonistas da investigação das denúncias de desvios de recursos no Detran. Antes da cerimônia, Stela comentou com Da Camino os planos de instalar a inspeção veicular pelo Detran. O procurador lembrou que, durante a gestão de Carlos Ubiratan dos Santos, ele teve de entrar com um pedido de liminar para suspender o processo porque encontrou indícios de irregularidade.
MIRANTE
Prefeito de Quinze de Novembro por dois mandatos, o médico Elemar Sand (PDT) está feliz da vida. Além de ter assumido neste mês a vaga de Ciro Simoni na Assembleia, o suplente foi convidado para ser adjunto do mesmo na Secretaria Estadual da Saúde.
Maria do Rosário e Sofia Cavedon não são as únicas mulheres de Veranópolis a ganhar poder neste início de 2011. A secretária estadual de Comunicação, Vera Spolidoro, também é de lá.
ALIÁS
O futuro da Corsan é uma das maiores preocupações do novo governo: diante da rejeição dos prefeitos das cidades de médio e grande portes aos serviços prestados por ela, a saúde da estatal está seriamente ameaçada.
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Com a Câmara em recesso, o deputado Paulo Pimenta circula pelo Piratini e participa ativamente das articulações para a composição do governo.