Tarso patrola a oposição
A votação dos primeiros projetos encaminhados à Assembleia pelo governador Tarso Genro serviu como um termômetro do comportamento dos deputados. Todos os projetos foram aprovados sem dificuldade, com apenas uma emenda incômoda para o governo, a do deputado Edson Brum (PMDB) que estende para outros devedores do Estado a anistia dada aos agricultores. A anistia vale apenas para dívidas até R$ 2,7 mil e que não sejam relativas a tributos. A oposição fez discursos fortes, mas não conseguiu impedir nem mesmo a aprovação das propostas mais criticadas, a que eleva a remuneração de 518 cargos de chefia e a que dá status especial à Agência de Desenvolvimento, cujo presidente terá salário de R$ 24 mil, idêntico ao teto estabelecido para o Banrisul e o BRDE. A agência terá ainda um vice-presidente com salário de R$ 23 mil e cinco diretores a R$ 20 mil. Em seus discursos, os deputados de oposição tentaram mostrar a incoerência do PT ao propor aumento de salários para CCs e disseram que os recursos seriam para “beneficiar a companheirada”. Mesmo entre aliados, a informação dos altos salários para a Agência de Desenvolvimento foi questionada. – Imagina se fosse no governo da Yeda que tivessem convocado a Assembleia às pressas para propor um salário tão alto, maior do que o de deputados, e sem muita discussão. O que o PT ia dizer? – questionou um aliado. As falas mais inflamadas foram de Alceu Moreira (PMDB) e Nelson Marchezan Jr. (PSDB), dois que não darão dor de cabeça a Tarso, porque se elegeram deputados federais. Dos que estarão na Assembleia nos próximos quatro anos, Edson Brum (PMDB) foi o mais contundente e deverá se credenciar como principal líder da oposição.
Com o aval da Justiça
A revogação da nomeação de Vicente Britto Pereira para o Conselho Superior da Agergs ganhou o aval do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Leo Lima. Ao negar ontem a liminar pedida por Britto Pereira, o desembargador endossou os argumentos usados pelo governo. E foi além. Escreveu que o governador tem o direito de escolher pessoas de sua confiança para as três vagas dos conselheiros que representam o Estado.
O desembargador entende que, mesmo o mandato sendo de quatro anos, o governador pode revogar a nomeação.
Independência em xeque
Se a decisão do desembargador Leo Lima for confirmada no julgamento do mérito da ação movida por Vicente Britto Pereira, estará aberta a porta para que os governadores revoguem a nomeação de conselheiros ao longo do mandato, alegando apenas diferenças de ponto de vista. O advogado de Britto Pereira, Ricardo Giuliani, diz que a decisão compromete a independência da agência reguladora. Britto Pereira promete recorrer até a última instância do Judiciário.
PP ALINHADO
Apesar de não fazer parte da base de Tarso Genro, a bancada do PP contribuiu para aprovar os projetos do governo, durante a sessão extraordinária da Assembleia. Dos sete deputados do partido que votaram, apenas Jerônimo Goergen se posicionou contra a proposta de aumento de salários para 518 CCs, a mais polêmica, que acabou aprovada por 28 votos a 18. Mesmo presente à sessão, o deputado Frederico Antunes não votou esse projeto. Caso toda a bancada tivesse sido contrária, o placar poderia ter sido revertido, o que gerou críticas entre colegas do PMDB e do PSDB. Apesar de fazer críticas pontuais aos projetos, o líder da bancada do PP, o deputado João Fischer , defendeu o aumento salarial. – Nós já éramos favoráveis a aumentar os salários de certos casos há mais tempo, então agora que o Estado está com as contas mais equilibradas entendemos que era o momento – argumentou.
Pelo currículo
Com aval do governador Tarso Genro, a médica e historiadora Leonor Schwartsmann foi convidada pelo secretário Luiz Antonio de Assis Brasil e aceitou continuar na direção do Memorial do Rio Grande do Sul. Assis não pergunta aos convidados para cargos na Cultura se têm algum vínculo partidário: a sabatina é estritamente técnica. Foi pelo critério técnico que Assis escolheu Rodi Borghetti, o Borghettão, para o Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore.
Princípio de crise
Vem do comando da Brigada Militar o primeiro sinal de crise do governo Tarso Genro. Burlando a transversalidade defendida pelo governador, o comandante Sérgio Abreu está causando a ira de líderes aliados ao indicar nomes à revelia para os comandos regionais.
Presente
Servidores da Assembleia ganharam um salário extra no contracheque, ontem, com o pagamento dos valores referentes à compensação por diferenças na conversão da URV para o Real. O pagamento, já feito no Judiciário, é contestado pelo deputado Nelson Marchezan Jr. (PSDB), que ingressou com 19 representações e oito ações populares na Justiça para tentar frear o gasto. – A forma de cálculo é ilegal – diz, baseado em decisão do Conselho Nacional de Justiça e em auditoria do TCU.
De mudança
A Procuradoria-Geral do Estado está de mudança para o prédio do Daer. Na área liberada no Centro Administrativo será instalada a nova Secretaria de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo, comandada por Ivar Pavan. O deputado Luciano Azeredo (PPS) chamou atenção ao permanecer de óculos escuros durante a sessão na Assembleia, ontem. Não era estilo, mas uma proteção, já que ele havia feito uma cirurgia para corrigir uma miopia na véspera.
ALIÁS
O convite dos secretários do Desenvolvimento e da Cultura para pessoas sem filiação partidária assumirem cargos no governo já desperta ciúme entre militantes petistas. O governo do Estado prepara um projeto para alterar os critérios de escolha dos conselheiros da Agergs e acabar com as indicações políticas. Vem polêmica por aí.
Microcrédito
A principal missão dada pelo governador ao secretário de Economia Solidária, Mauricio Dziedricki, foi a formação de uma nova rede de microcrédito no Rio Grande do Sul. Tarso Genro orientou Dziedricki a trabalhar com os principais agentes financeiros (Banco do Brasil, Banrisul, Caixa RS, BNDES e BRDE).