segunda-feira, 7 de junho de 2010

Mais uma trapalhada /Rosane de Oliveira/Página 10 ZH.

Espremendo bem, o que sobra nessa novela do dossiê que tanta polêmica tem causado nos últimos dias? Pouca coisa, apesar do estardalhaço e do afastamento de Luiz Lanzetta da campanha de Dilma Rousseff. Sobram a certeza de que o PT fazia o que todo mundo faz numa campanha eleitoral monitorar os passos dos adversários , a dúvida sobre o uso de métodos ilegais, como o grampo, e a constatação de que há trapalhões no que deveria ser um núcleo de inteligência.O delegado aposentado Onézimo Souza, que diz ter sido sondado por Lanzetta para fazer o trabalho de espionagem, deduziu que o trabalho incluía escutas ilegais. A versão de Lanzetta é de que o delegado ofereceu seus préstimos à campanha do PT para fazer espionagem de Serra e seus aliados, num contra-ataque a supostos dossiês produzidos pelo deputado fluminense Marcelo Itagiba. Mas, ao dizer que não se lembra de quem marcou o encontro no restaurante Fritz, onde ocorreu a conversa com Onézimo, Lanzetta enterra a credibilidade da própria defesa.
Assim como em 2006, no episódio que o presidente Lula definiu como ação de um grupo de “aloprados”, a tentativa de produzir dossiês sobre o adversário tornou-se pública, e os autores acabaram desmoralizados. Como a palavra “dossiê” caiu em desgraça, foi o que bastou para se dar ao episódio uma dimensão maior do que tem de fato.A empresa de Lanzetta, a Lanza Comunicação, é a mesma que protagonizou uma trapalhada no dia 23 de maio, ao divulgar para dezenas de pessoas uma análise de mídia produzida para consumo interno. No documento, os analistas davam curso às teorias conspiratórias, interpretando reportagens do jornal O Globo sobre o Sistema Único de Saúde e sobre uma proposta do MEC de acabar com a reprovação nas escolas como instrumentos para desgastar a candidatura de Dilma.A tentativa de contratar arapongas para espionar José Serra é apenas mais uma trapalhada. Seria crime se tivesse ocorrido escuta ilegal, o que até poderia ser a intenção, mas não se consumou porque o caso veio a público.O conteúdo do suposto dossiê, repita-se, é um traque: só coisa velha que já rodou na internet. Se Dilma e Serra que estão à frente nas pesquisas não quiserem perder votos para Marina Silva terão de se ocupar de assuntos mais nobres